A abundância de microplásticos (MPs) no Oceano aumentou drasticamente nas últimas décadas, particularmente nas águas costeiras das regiões povoadas. Estudos recentes provaram a agregação de vários contaminantes às MPs. Tanto quanto sabemos, a ligação entre as toxinas produzidas naturalmente durante a floração de algas tóxicas e as MPs não foi documentada. A pertinência desta hipótese advém do facto de as toxinas dissolvidas serem atualmente quantificadas através da sua sorção em dispositivos poliméricos colocados em águas do mar.

Esta proposta visa avaliar as espécies bivalves colhidas ou produzidas em Portugal mais sensíveis à ingestão de MPs. A influência das condições ambientais, oceanográficas e hidrológicas será estudada em espécies chave de estuários e lagoas costeiras (mexilhão, amêijoa e ostra) e águas costeiras (mexilhão e ostra). Se possível, será avaliado o efeito das cheias na quantidade e tipos de MPs ingeridas pelos bivalves, o que constitui uma contribuição para a elaboração de cenários de alterações climáticas e medidas de adaptação. O segundo grande objetivo é identificar quais as toxinas naturalmente produzidas durante a floração de algas tóxicas em Portugal que têm maior afinidade com as MPs. Diferentes tipos de MPs, tamanho, forma, idade e composição química serão testados em laboratório e em experiências de campo. As respostas bioquímicas de espécies selecionadas serão estudadas após exposição a MPs, agregados de MP-toxinas e fitoplâncton tóxico em laboratório. Finalmente, a proposta visa esclarecer se a intensidade da toxicidade bivalve ou os períodos de interdição aos consumidores humanos serão afetados pela ingestão de agregados de MP-toxina.