A aquicultura contribui significativamente para a segurança alimentar em todo o mundo, controlando a fome, promovendo a saúde e o bem-estar socioeconómico e reduzindo a pobreza através do emprego. Face à crescente procura nacional e internacional de pescado, a produção aquícola adquire uma importância estratégica na economia do mar, à escala global e local. No entanto, para atender às metas de desenvolvimento sustentável da UN2030 (Agenda 2030), a aquicultura deve adotar ações integradas, económica, ambiental e socialmente sustentáveis. Para tal, é imperativo que o setor de produção de alimento para a aquicultura limite, urgentemente, o uso de ingredientes de grande impacto ambiental e económico, como é o caso das farinhas de peixe e de ingredientes agrícolas. Deve, também, adotar estratégias nutricionais, como o recurso de aditivos funcionais, que melhorem a saúde e o bem-estar dos peixes e reduzam o uso de antibióticos, de forma a garantir a segurança alimentar.
As macroalgas representam uma fonte de nutrientes subvalorizada e pouco explorada. O seu baixo teor proteico e o elevado teor em fibra não digerível, limita o seu uso como fonte proteica em dietas para animais, particularmente para peixes carnívoros, dados os seus exigentes requisitos nutricionais. Contudo, mediante adequado tratamento biotecnológico, como a fermentação, é possível transformar as macroalgas em novas ingredientes e aditivos funcionais, de valor acrescentado, contribuindo para a redução da pressão dos recursos terrestres e combate às mudanças climáticas, no contexto da bioeconomia azul.
A Fermentação em Estado Sólido (SSF) e a Fermentação Submersa (SmF) são tecnologias de baixo custo, mas com elevado potencial de aplicação em macroalgas, como estratégia para melhorar seu valor nutricional, aumentando o teor de proteínas e a digestibilidade de nutrientes. A SSF e SmF das macroalgas permite, também, maximizar a produção e libertação compostos com propriedades funcionais, como por exemplo, enzimas capazes de hidrolisar a fibra, compostos antimicrobianos, antioxidantes e imunomoduladores. Estes compostos funcionais apresentam elevado potencial de aplicação em rações aquícolas, para melhorar o desempenho produtivo dos peixes, a digestibilidade de nutrientes, o estado imunológico e oxidativo e a resistência a doenças. Assim, a valorização das macroalgas como novos ingredientes e aditivos funcionais, para a aquicultura, tem um elevado interesse prático, permitindo a redução da pressão nos recursos terrestres e o combate às mudanças climáticas, no contexto da bioeconomia azul.
Impulsionado pela necessidade de desenvolver novos e sustentáveis ingredientes para a aquicultura, o projeto MB4Aqua tem como objetivo desbloquear todo o potencial das macroalgas para produção de novas fontes de 1) ingredientes nutricionalmente enriquecidos e 2) compostos funcionais, através da otimização dos processos de SmF e SSF. Para garantir a adequação destes novos produtos na maximização da produtividade zootécnica, bem-estar e resistência a doenças dos peixes, os produtos da fermentação das macroalgas serão testados, usando uma abordagem in vitro para seleção dos mais promissores e aplicação em dietas para de robalo europeu (Dicentrarchus labrax), que desempenha um papel importante no setor aquícola da UE. Usando uma abordagem holística, o MB4Aqua irá focar a caracterização bioquímica e funcional de produtos da fermentação das macroalgas; desempenho zootécnico; digestibilidade de nutrients; função intestinal; modulação da microbiota; estado oxidativo e inflamatório e resistência a doenças bacterianas.
Este projeto explorará as sinergias da cooperação internacional e a multidisciplinar entre a Matís (Islândia) e o CEB, UMinho, em processos biotecnológicos de SmF e SSF, e a experiência do CIIMAR, em nutrição de peixes e aquicultura, para desenvolver novos ingredientes à base de macroalgas, de valor agregado e patenteáveis, para a indústria aquícola. O MB4Aqua consolidará a cooperação entres diferentes centros de investigação, promovendo a inovação e transferência de conhecimento. O MB4Aqua garantirá que as atividades de transferência e disseminação de conhecimento adquirido apoiem a ciência aberta e o envolvimento das partes interessadas e do público em geral.
No geral, o MB4Aqua contribuirá para uma economia azul, circular e de baixo carbono (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, ODS 12) e para o aprovisionamento de proteína edível, o peixe, de levadíssimo valor nutricional para o consumo humano (ODS1 e 2), promovendo a produção sustentável de peixe, com elevados ganhos ambientais (ODS14), nomeadamente a descarbonização (ODS13). O MB4Aqua criará novas oportunidades de emprego e rendimento para as comunidades rurais costeiras (ODS8), relacionadas com a recolha e produção de macroalgas marinha.