A sobrepesca tem sido um grande problema para várias espécies marinhas, reduzindo o tamanho efetivo das suas populações a remanescentes dos seus níveis originais. No entanto, devido à falta de dados precisos sobre as capturas de pesca, ainda temos uma fraca compreensão de como estes impactaram o seu caminho evolutivo. Uma das espécies mais impactadas foi a sardinha europeia (Sardina pilchardus), um importante recurso pelágico pelágico nas águas do Atlântico, com enorme valor económico especialmente no Sul da Europa e em Marrocos, onde é o principal alvo da caça. -frotas de cerco e representa uma importante fonte de rendimento para as populações locais.

A espécie distribui-se desde o sul do Mar Céltico e do Mar do Norte até à Mauritânia e Senegal, incluindo os Açores, a Madeira e os Arquipélagos das Canárias, sendo também abundante no Mediterrâneo. Num estudo genómico populacional recente, caracterizámos 12 populações de sardinha abrangendo toda a distribuição da espécie. Os nossos resultados mostram claramente que a diversidade genética da espécie pode ser particionada em pelo menos três grupos genéticos: um incluindo indivíduos dos Açores e da Madeira (dois arquipélagos no Atlântico), o segundo abrangendo populações ibéricas (centro da distribuição amostral), e o terceiro reunindo amostras do Mediterrâneo e das Ilhas Canárias, com indivíduos da Península Ibérica apresentando algum grau de mistura.
Aqui utilizaremos técnicas de DNA antigo de última geração para analisar amostras anteriores a períodos de pesca intensiva e comparar esses resultados com os obtidos nas populações atuais (pós-exploração). Para tal recolhemos exemplares de três sítios arqueológicos romanos diferentes dentro da área de distribuição da espécie: a) Adro Vello, Galiza, os ossos de sardinha datam do século III dC e foram recolhidos no fundo de cubas de salga de peixe; b) Tahaddart, Marrocos, população da região de Mauritânia Tingitana, a primeira amostra de peixe recolhida nesta salga de peixe, que funcionou entre os séculos I-4/V d.C.; c) Lobos, Ilhas Canárias, estas amostras datam de finais do século I a.C. e inícios do século I d.C., e foram recolhidas num conjunto de conchas associado a uma oficina púrpura romana. Extrairemos DNA e sequenciaremos genomas completos desses indivíduos, permitindo-nos comparar essas populações históricas pré-exploração com os dados obtidos em nossa recente caracterização de populações modernas. Isto permitir-nos-á obter uma perspetiva mais precisa do tamanho efetivo da população e dos níveis de diversidade genética das espécies antes da sobrepesca, informações valiosas para a delimitação e gestão das unidades populacionais e definição do esforço de pesca nas diferentes áreas de pesca definidas pela Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Este projeto aplica uma forma inovadora de obter novas informações genómicas relativas a um amplo período de tempo normalmente não disponível para os decisores políticos.