Numa era de mudanças ambientais sem precedentes, tem-se verificado uma crescente preocupação em termos ecológicos e de saúde pública global associados à exposição a poluentes antropogénicos.

A poluição por metais pesados, devido à sua alta toxicidade, não biodegradabilidade e enriquecimento biológico, tem ameaçado seriamente a saúde dos seres humanos e a estabilidade do sistema ecológico. A imobilização, remoção ou descontaminação de iões de metais pesados do ambiente é, portanto, urgente e, nos últimos anos, o desenvolvimento de técnicas biológicas de alta eficiência para remover resíduos de metais tóxicos tem emergido. Uma metodologia eficaz, económica e ambientalmente sustentável envolve o uso de bactérias para a biorremediação de solos contaminados com metais pesados através do uso de sideróforos. Devido à sua alta afinidade com o ferro, os sideróforos podem ser utilizados para combater a poluição de metais tóxicos e simultaneamente patógenos aquáticos, incluindo patógenos de peixes, e até o combate de cianobactérias. O papel dos sideróforos é principalmente o de quelatar o ferro, mas estes também podem formar complexos com outros metais presentes no ambiente e que podem ter um impacto nefasto. Os metais pesados podem ser letais para as células microbianas em altas concentrações e, portanto, a modulação do transporte desses complexos sideróforo-metal para dentro e para fora da célula é obtida por meio da expressão de sistemas de efluxo. Em condições extremas, as bactérias param de crescer e morrem por excesso de metal (intoxicação) ou severa limitação de metal (escassez). No decorrer de um projeto anterior, foram descobertos vários compostos inibidores de bombas de efluxo (EPIs) e surgiu a ideia de que esses compostos combinados com sideróforos (SEPIs) poderiam ter aplicações ambientais. Este projeto exploratório visa investigar os sideróforos como ferramentas em aplicações ambientais, contemplando quatro hipóteses diferentes: i) Os sideróforos selecionados são capazes de remover outros metais para além do ferro do meio ambiente ?; ii) Os SEPIs são capazes de manter a capacidade de quelatar metais tóxicos do meio ambiente e a capacidade de inibir as bombas de efluxo? iii) Os SEPIs são capazes de intoxicar bactérias com excesso de metais tóxicos pelo influxo de iões metálicos e bloqueando seu mecanismo de defesa (efluxo) ?; iv) Os SEPIs são capazes de controlar os patógenos de peixes e cianobactérias por intoxicação de ferro? Uma importante repercussão deste projeto exploratório, após a validação das hipóteses anteriores, é estender o uso de SEPIs a outras aplicações ambientais (biorremediação de solos, aumento do crescimento e biocontrolo de patógenos de plantas) após estudos toxicológicos e de estabilidade detalhados. Isso permitirá que sua valorização económica capte a atenção da indústria agrícola para conjugados SEPIs eficazes e seguros.